Tema

Qual deve ser a relação entre
a filosofia e as ciências?

Possibilidades de abordagem da questão

Como é de se esperar de um colóquio que procura respostas a problemas, a pergunta proposta para o evento deste ano possui muitas nuances. Dependendo de como se compreende o que é a filosofia e a ciência, é possível chegar a diferentes conclusões sobre essa questão. As teses filosóficas podem possuir conteúdo cognitivo? (Isto é, a filosofia possui teses que são passíveis de serem objeto de conhecimento?) Se a filosofia pode possuir esse conteúdo cognitivo, de que tipo ele é? Esse tipo de conteúdo cognitivo pode interagir de alguma forma com as teses científicas? Se, por outro lado, as teses filosóficas não podem possuir conteúdo cognitivo, é possível ainda haver algum tipo de relação entre a ciência e a filosofia, caso a ciência tenha conteúdo cognitivo? Se sim, qual seria essa relação?

De acordo com as possíveis respostas às perguntas acima (e a muitas outras perguntas de fundo), pode-se tentar defender tanto que teses filosóficas podem ser abandonadas ou sustentadas em vista de descobertas científicas quanto que esse tipo de interferência de descobertas científicas na filosofia é impossível. O oposto também pode ser abordado: as teses filosóficas podem agregar conhecimento à ciência ou até derrubar teses científicas? Caso a filosofia não possua conteúdo cognitivo, porém, é possível também defender que haja pelo menos interferências de cunho pragmático de teses filosóficas na ciência. Talvez, visões de mundo provenientes de teses filosóficas, independentemente de possuírem conteúdo cognitivo, possam determinar que tipo de objeto a ciência procura estudar, ou que tipo de estudo ela procura, ou deve procurar, evitar. Ou, em um sentido oposto, pode ser defendido que descobertas científicas podem contribuir, em conjunção com teses filosóficas, para uma visão de mundo ou perspectiva moral que não se teria sem o conhecimento de tal descoberta. Acerca desse aspecto, evidentemente, questões de ética e metaética também podem ser abordadas nas comunicações.

As posições abordadas acima, assim como outras possíveis, podem ser defendidas com argumentos que fazem uso de diversas áreas da filosofia e da ciência. É possível citar pares como a filosofia da mente e a neurociência ou psicologia, a filosofia da linguagem e a linguística, a ética e a genética, a epistemologia e a biologia (no contexto dos chamados “debunking arguments”), entre outros. A apresentação, claro, também pode abordar algo mais geral, como os diversos assuntos discutidos na filosofia da ciência. Como se pode ver, todas essas perspectivas não podem ser apresentadas em profundidade no tempo de apresentação estipulado. Portanto, é recomendado algum tipo de recorte dentro dessas possibilidades.